Projeto “Repórter Junino”, da UEPB, completa 15 anos e se consolida como laboratório para futuros jornalistas
Difusão da cultura popular, resgate de valores regionais, uso da tecnologia e produção de reportagens com qualidade. Essas são algumas características do “Repórter Junino”, considerado um dos maiores projetos do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e que, este ano, está completando 15 anos de existência. A iniciativa, já consolidada como produto de jornalismo digital da Instituição, nasceu despretensioso, em 3 de junho de 2005, na antiga sede do Departamento de Comunicação (DECOM), no bairro de São José, como parte do componente curricular “Novas Tecnologias da Informação e Comunicação”.
Inicialmente, uma turma de 30 alunos, supervisionada pelo professor Fernando Firmino da Silva, integrou o projeto, que tinha o objetivo inicial de envolver estudantes de Jornalismo na cobertura dos festejos juninos de Campina Grande. A ideia era acompanhar o Maior São João do Mundo e divulgar os eventos da festa em um site. Idealizado pelos professores Fernando Firmino e Águeda Cabral (in memoriam), o “Repórter Junino” transcendeu a sala de aula, ganhou notoriedade e se tornou um celeiro de profissionais da imprensa.
Vários jornalistas que hoje atuam na imprensa local, passaram pelo projeto. Quinze anos depois de lançar a primeira semente e após vivenciar diversas experiências produtivas, Fernando conta que pensou no projeto devido a disciplina que ministrava ser mais teórica e os alunos sentirem a necessidade de produzir algo prático. A entrada da professora Águeda Cabral, uma grande parceira da iniciativa, deu o caráter mais cultural do projeto.
O “Repórter Junino” se tornou, então, um laboratório de Jornalismo que atua como se fosse uma redação de jornal. Nele, os alunos fazem entrevista, elaboram pauta, colhem informações, tiram fotos, gravam vídeos e produzem matérias e documentários usando todos os recursos da tecnologia. Fernando reforça que os alunos que trabalham no projeto ganham uma visibilidade maior no mercado de trabalho, pois o a iniciativa já é uma referência nos meios de comunicação e enriquece o currículo do participante. “O ‘Repórter Junino’ tem servido efetivamente como um laboratório de produção, porque o aluno está sendo acompanhado por um professor, que os ajudam a amadurecer seus textos”, destaca.
Como os alunos são credenciados na Coordenadoria de Comunicação (CODECOM) da Prefeitura Municipal de Campina Grande (PMCG), eles têm acesso à Central de Imprensa montada no Parque do Povo e, consequentemente, a outros profissionais, conhecendo assim os bastidores da produção de reportagens. Muitos, ao término das edições do São João, são chamados para estágio em veículos de comunicação tradicionais da cidade, devido à sua performance na cobertura dos festejos juninos. Em média, três ou quatro alunos são chamados para estágio a partir do “Repórter Junino”.
Uma das características do projeto é produzir matérias com um olhar diferenciado da mídia. Isso, porque o forte do projeto é valorizar a cultura popular nordestina e os costumes locais, o que leva os futuros jornalistas a se aproximarem dos quadrilheiros, dos trios de forró e outros personagens que dão vida à festa junina. Algumas reportagens produzidas e veiculadas no site do “Repórter Junino” chegaram a virar pautas dos telejornais locais.
Fernando Firmino conta que, nos anos seguintes ao seu início, com o projeto em crescimento e evoluindo nas coberturas dos festejos juninos, mais de 100 estudantes participaram das atividades jornalísticas em cada edição. Em 15 anos, mais de 1.400 alunos de Jornalismo já passaram pelo projeto. Nos primeiros anos, a média de estudantes selecionados para atuar na iniciativa era de 100 graduandos. No decorrer dos anos, por questões de logística, esse número foi reduzido e, hoje, cerca de 70 alunos são selecionados para fazer parte das novas edições.
Vários professores já colaboraram com o projeto, principalmente quando Fernando se afastou da UEPB para fazer o seu Doutorado, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a exemplo de Arão Azevedo, Roberto Faustino, Verônica Oliveira, Patrícia Rios, entre outros. Atualmente, integram o projeto os professores Rostand Melo, Kleyton Canuto e Arão Azevedo, do Curso de Jornalismo da UEPB, e os professores do Curso de Educomunicação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Rosildo Brito e Diogo Lopes.
Com seu crescimento, o “Repórter Junino ” não se limitou apenas a cobrir o Maior São João do Mundo, mas passou a abrir espaço para que alunos de outros estados se dedicassem às coberturas de eventos culturais e virou uma memória digital de festejos juninos de cidades nordestinas da Bahia, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e do Ceará. O resultado é a construção de um valoroso banco de dados com informações, fotos, vídeos, matérias sobre a cultura regional, o que se constitui um legado para a posteridade.
Ao longo desses 15 anos, o “Repórter Junino” celebrou parcerias com importantes universidades nacionais e internacionais, que enviaram alunos para cobrir o São João de Campina Grande, a exemplo da UFCG; da Universidade de Ciências Aplicadas de Koblenz, na Alemanha; Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo um dos coordenadores do projeto, professor Arão Azevedo, essas parceiras fortalecem o projeto e trazem novas visões aos participantes.
Em 2010, o Itaú Cultural reconheceu o “Repórter Junino” como um dos principais projetos de laboratório no Brasil, considerado também um dos mais antigos em atividade e que reúne em sua equipe uma quantidade de alunos muito grande. Ao celebrar 15 anos, os idealizadores garantem que o projeto ajuda na consciência dos alunos sobre os valores das culturas populares, a preservação delas, mesmo as coberturas não deixando de fora os cantores midiáticos do momento. O projeto prioriza, no entanto, os artistas que têm menos espaço na grande mídia, como os trios de forró, com matérias humanizadas. Tanto é que, no ano passado, o “Repórter Junino” realizou o 1º Simpósio do Forró, com a ideia de centrar no principal ritmo da cultura nordestina.
Para este ano, os coordenadores do projeto estavam preparando uma série de atividades para marcar o 15º aniversário, mas teve que repensar a programação devido à pandemia de Covid-19. Desta forma, o projeto deve executar algumas atividades utilizando as tecnologias digitais. Uma das propostas, indicada pelo jornalista Hipólito Lucena, é a realização de um webinário, em uma parceria com a Coordenadoria de Comunicação (CODECOM) da UEPB, para divulgar o papel da cultura nordestina, os 15 anos do projeto e discutir o São João de uma forma geral.
Concluinte do Curso de Jornalismo, Rayane Brito, diz que o projeto foi relevante na sua formação profissional e uma rica experiência de trabalho prático. “Participar da projeto me ajudou não só a desenvolver a escrita jornalística, como também apurar meu olhar fotográfico. Além de produzir fotos que transmitissem por si só a notícia, conquistei diversos clientes ao longo dessa jornada, o que facilitou meu ingresso no mercado de trabalho e me abriu portas em grandes empresas de comunicação de Campina Grande. O ‘Repórter Junino’, sem sombra de dúvidas, foi meu maior laboratório. Sou grata por fazer parte dessa história”, comenta Rayane, que atua no projeto como fotógrafa e repórter há quatro anos.
Diego Martins, aluno de Educomunicação da UFCG, também considera o projeto um grande laboratório que lhe permitiu viver a prática do jornalismo. “É uma grande escola, que me permitiu colocar em prática muito do que aprendi na Universidade. A experiência com as rotinas de produção, redação e cobertura ganham um gosto a mais quando o assunto é São João, mais ainda quando nos é possível resgatar a identidade cultural dos festejos através da notícia. Enquanto aluno de Educomunicação, curso que tem parceria com o projeto, entendo que o ‘Repórter Junino’ abrange diversas práticas da interface Comunicação e Educação e, mesmo sendo de outra instituição, me sinto em casa”, revela o estudante.
Já Miranize Ferreira, aluna de Educomunicação, destaca que o projeto foi enriquecedor e possibilitou que ela aprendesse a prática na área de Comunicação. “O ‘Repórter Junino’, além de me dar a oportunidade de aprender e praticar, fez com que eu, que até então não sabia que área da Comunicação seguir, descobrisse o que quero, que é atuar como repórter ou redatora, além de abrir várias portas para atuar nessa área. Graças a experiência de ter feito parte desse projeto, sou repórter de um dos maiores times da Paraíba”, celebra Miranize.
Texto: Severino Lopes
Imagens: Arquivo Repórter Junino
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