Tecnologia que detecta metanol em bebidas destiladas entra em fase de ensaio para produção em escala

Tecnologia que detecta metanol em bebidas destiladas entra em fase de ensaio para produção em escala
9 de outubro de 2025

A pesquisa desenvolvida por pesquisadores do Departamento e do Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) que detecta metanol em bebidas alcoólicas de forma rápida e mesmo com a garrafa lacrada, entrará em uma nova etapa para acelerar a produção em escala. O método inédito está prestes a entrar na fase de ensaio científico.

O pesquisador David Douglas Sousa Fernandes revelou que a pesquisa, que ganhou ampla repercussão devido ao crescente número de casos de intoxicação por metanol, entrará em fase de teste de amostras reais. As perspectivas são que os ensaios comecem já a partir do dia 13 de outubro. Trata-se de testes que serão realizados de forma sistemática e rigorosa para validar, comprovar a funcionalidade, dar segurança e a eficácia da tecnologia.

O novo sistema utiliza radiação (luz) infravermelha para identificar substâncias estranhas à composição original da bebida. Quando a luz incide sobre a bebida, as moléculas presentes nela são alteradas nas frequências de vibração, sendo cada tipo de molécula alterada de forma distinta. Em seguida, um software trata os dados e um display que indica se há ou não a presença de compostos adulterantes, como metanol, água adicionada ou até etanol veicular.

A pesquisa começou a ser desenvolvida em 2023, portanto, antes do atual surto de intoxicações, no Laboratório de Química Analítica e Quimiometria, em colaboração com os professores Railson de Oliveira Ramos e Germano Veras (PPGQ), Felix Brito (PPGCA) e com a participação de outros pesquisadores. O método consegue identificar adulterações em poucos segundos, sem uso de produtos químicos e com 97% de precisão. Inicialmente, os pesquisadores analisavam a qualidade da cachaça produzida no interior da Paraíba. Com o aumento dos casos de intoxicação, a equipe adaptou o estudo para incluir a detecção de metanol e outras adulterações.

Agora, a equipe trabalha na confecção de um novo mecanismo de segurança que consiste em um canudo sustentável de baixo custo, capaz de mudar de cor ao entrar em contato com o metanol. O dispositivo funciona de maneira semelhante a um teste de gravidez. “A gente está finalizando algumas unidades do canudo sustentável para que nos próximos dias já possamos começar os ensaios, na parte mais elevada relacionada à segurança do consumidor final”, anunciou o pesquisador.

Os canudos sustentáveis estão sendo produzidos na Fundação Parque Tecnológico de Campina Grande e, segundo os pesquisadores, com todo cuidado e segurança para evitar contaminação. O professor Railson de Oliveira Ramos explicou que esse método é mais acessível, podendo ser utilizado por distribuidoras ou proprietários de bares e restaurantes, que podem receber treinamento e verificar se o lote ou a bebida que eles estão adquirindo contém ou não a presença de metanol.

“A ideia é que nós consigamos empacotar os reagentes em um canudo biodegradável. Esse canudo atua como uma espécie de coluna cromatográfica, que seria o empacotamento de reagentes em uma mídia. Quando ele entra em contato com a bebida, o fluido sobe por capilaridade, interagindo com os reagentes. E dentro do canudo, com os reagentes protegidos para que ninguém tenha contato com eles, acontece uma mudança de coloração visualizada na parte externa do canudo”, explicou o pesquisador.

Os professores acreditam que o sistema poderá ser amplamente utilizado por órgãos de fiscalização, produtores e comerciantes, contribuindo para a segurança do consumo de bebidas alcoólicas no país. Esta outra tecnologia foi desenvolvida com a colaboração de professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e com o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FAPESQ), órgão ligado ao Governo da Paraíba.

O professor Felix Brito, do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias, explicou que o estudo foi feito a partir da leitura de 462 amostras de cachaça — bebida tradicional da Paraíba. Professor Félix lembrou que, em 2020, foi aprovado um projeto na FAPESQ com valor de R$ 1 milhão, o que permitiu a construção do Laboratório de Tecnologia da Cachaça e Aguardente, que funciona no complexo da Central de Laboratórios Multiusuários (LABMULTI), no Câmpus I, em Campina Grande.

Diante do avanço assustador dos casos de intoxicação no Brasil e da urgência de conter o problema, a tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da UEPB chamou a atenção do Ministério da Saúde e pode virar uma política pública. O ministro Alexandre Padilha se interessou pela tecnologia e, em reunião com a reitoria, professor Celia Regina Diniz; com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta; e com o grupo de pesquisadores, manifestou interesse em tornar a tecnologia uma política pública.

A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, professora Nadja Oliveira, enfatizou que os pesquisadores precisam de recursos para avançar na tecnologia. “Nós precisamos agora de recursos para escalonar a tecnologia. Nesse momento, para que a gente consiga fazer com que os dispositivos de baixo custo e a solução cheguem para o Brasil inteiro, a gente precisa de recursos para poder adquirir insumos. Com os recursos teremos a capacidade de aumentar a equipe de pesquisadores e, com isso, conseguir entregar em escala o que a gente produziu no ambiente de laboratório de pesquisa”, observou a pesquisadora.

Texto: Severino Lopes e Giuliana Rodrigues
Fotos: Giuliana Rodrigues