UEPB desenvolve tecnologia inovadora para identificar metanol em bebidas e ganha repercussão nacional

UEPB desenvolve tecnologia inovadora para identificar metanol em bebidas e ganha repercussão nacional
6 de outubro de 2025

Diante de um crescente número de casos suspeitos de intoxicação por metanol que pode ter atingido, ao menos, 209 pessoas no Brasil, sendo 16 confirmados, uma tecnologia revolucionária e inovadora desenvolvida por pesquisadores do Departamento de Química e do Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), para identificar a presença de metanol em bebidas, ganhou relevância e ampla repercussão nacional.

Garantir a qualidade das bebidas destiladas é o foco dos pesquisadores ao criar a tecnologia de ponta que consiste em um método rápido e barato para saber se alguma delas está contaminada com metanol. O equipamento emite luz infravermelha sobre a garrafa, mesmo que ela esteja lacrada. A luz provoca uma agitação nas moléculas, e um software recolhe os dados, interpreta as informações e identifica qualquer substância que não faz parte da composição original da bebida, desde o metanol até a adição de água, para fazer o produto render mais.

A pesquisa é coordenada pelo professor David Douglas Fernandes, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ), em colaboração com os professores Railson de Oliveira Ramos, Germano Veras (PPGQ-UEPB) e Felix Brito (PPGCA-UEPB), com a participação de outros pesquisadores.

O método, conforme explicaram os pesquisadores, detecta adulterações em poucos minutos, sem produtos químicos. Coordenador da pesquisa, o professor David Douglas explicou que o trabalho conseguiu uma taxa de classificação em nosso estudo de 97%. “Além disso, conseguimos fazer o rastreamento das cachaças da Paraíba, de forma que, ao compará-las com as produzidas em outras regiões do país, é possível identificar se uma cachaça, em específico, foi produzida na região do brejo paraibano ou fora da região”, explica.

Além de facilitar as análises em laboratórios, o equipamento desenvolvido na UEPB pode ser utilizado por órgãos controladores. “A solução emprega dispositivos capazes de identificar adulterações em poucos segundos, prontos para uso em campo, na indústria e em ações de fiscalização”, destacou o professor David Douglas.

A tecnologia inovadora também conta com a colaboração de professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com o financiamento do Governo da Paraíba, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq), e oferece uma alternativa rápida, sustentável e altamente precisa para identificar metanol e outras fraudes em bebidas alcoólicas.

Publicações científicas validam o método

A pesquisa começou em 2023 e, em 2025 os pesquisadores publicaram dois artigos científicos sobre o método na revista “Food Chemistry”, uma das principais publicações dedicadas à química e bioquímica dos alimentos.

Foram publicados os artigos “Um método verde para autenticação de aguardente de cana-de-açúcar e previsão de densidade e teor alcoólico com base em espectroscopia de infravermelho próximo e ferramentas quimiométricas” (Food Research International, 2023), “Autenticação não destrutiva de Cachaças do Brejo Paraibano baseada em espectroscopia MIR” (Food Chemistry, 2025) e “Quantificação do teor alcoólico e identificação de fraudes em cachaças tradicionais por espectroscopia NIR” (Food Chemistry, 2025).

Autor do artigo, o professor David Fernandes revelou que a metodologia foi capaz de identificar se a cachaça estava adulterada com compostos que são característicos da própria produção e, além disso, se foi feita alguma alteração fraudulenta posteriormente, como adição de água ou outro composto.

O próximo passo dos pesquisadores é produzir o método em grande escala. Para isso, já estão desenvolvendo um novo mecanismo de segurança: um canudo que muda de cor ao entrar em contato com o metanol. Ou seja, agora, os pesquisadores estão trabalhando na fabricação de instrumentos portáteis de baixo custo baseados em espectroscopia NIR e imagens digitais para uso em linha de produção. Essa fase da pesquisa está sendo desenvolvida no Laboratório de Instrumentação Industrial da UEPB (LINS-UEPB).

A professora Nadja Oliveira, pró-reitora de pós-graduação da UEPB, explica o funcionamento: “Estamos desenvolvendo uma solução, na qual haverá um canudo impregnado com a substância química, que, ao contato com o metanol, mudará a cor do canudo. Isso vai fazer com que o usuário também tenha uma segurança de, quando estiver consumindo a bebida, de que ela não tenha teor de metanol”.

O professor Railson Oliveira enfatizou que o foco principal, neste momento, é entregar uma solução rápida com o desenvolvimento de um kit de baixo custo para identificação colorimétrica. “Essa identificação é qualitativa. Ela não diz quanto tem de metanol, apenas se ele está presente ou ausente. O kit será produzido a partir de canudos descartáveis impregnados com reagente, que ao entrar em contato com a bebida, em poucos minutos indicará se bebida tem ou não metanol”, ressaltou.

Tecnologia paraibana

Os idealizadores da pesquisa também pretendem conseguir o contato com uma empresa que possa produzir os canudos em larga escala. A ideia é transferir para a possível empresa a tecnologia, no intuito de que ela chegue o quanto antes aos consumidores no mercado.

“O ideal é que, primeiramente, os órgãos de vigilância tenham acesso a esses kits. Em seguida, as distribuidoras e os consumidores indiretos, que são os donos de bares e restaurantes que revendem as bebidas”, explicou Railson Oliveira.

A pró-reitora de Pós-Graduação, a professora Nadja Oliveira, enfatizou que a UEPB vem intensificando o investimento nessa linha de pesquisa também, através do seu Laboratório Multiusuário (LABMULTI), numa parceria com o fomento da Fapesq e da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (SECTIES). As parcerias são necessárias para aquisição de equipamentos de ponta de caracterização de análise química, como espectrofotômetro, e para desenvolvimento e inovação de tecnologia semelhante, mas com equipamentos de baixo custo.

Professora Nadja acrescentou que esse equipamento que já está sendo desenvolvido e é capaz de fazer caracterização do metanol, sendo uma tecnologia “made in Paraíba”, feito na UEPB, em parcerias com outras instituições de fomento.

Parcerias podem virar política pública

Diante do avanço assustador dos casos de intoxicação no Brasil, e da urgência de conter o problema, a tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da UEPB chamou a atenção do Ministério da Saúde e de parlamentares, e pode virar uma política pública.

No último sábado (04), a reitora da instituição, a professora Celia Regina, a vice-reitora, Ivonildes Fonseca, a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, professora Nadja Oliveira, além dos pesquisadores responsáveis pela tecnologia, se reuniram com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha e com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, para tratar do assunto, e discutir propósitos sobre os avanços das pesquisas voltadas à identificação de metanol em bebidas alcoólicas comercializadas no Brasil.

A reunião, realizada de maneira remota, marcou um passo significativo na busca por soluções científicas para um grave problema de saúde pública: a adulteração de bebidas com substâncias tóxicas, como o metanol, que vem sendo responsável por intoxicações e mortes em diversas regiões do país.

Segundo a reitora Célia Regina, o encontro foi uma oportunidade para estabelecer uma parceria sólida entre a UEPB e o Governo Federal, com vistas à aplicação prática dos resultados das pesquisas. “Essa união de esforços busca enfrentar de forma técnica, científica e eficaz um grave problema de saúde pública, que tem vitimado pessoas em diversas partes do nosso país”, afirmou.

Ela destacou o compromisso da Universidade com a ciência, a vida e o desenvolvimento social, reforçando a disposição da UEPB em colaborar com políticas públicas que gerem impacto real na vida da população.

Texto: Severino Lopes e Giuliana Rodrigues