“Um filho especial”: Museu de Arte Popular da Paraíba recebe lançamento do livro “Sob o Olhar de uma Mãe”
Neste sábado (15), às 9h, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, receberá o lançamento do livro “Sob o Olhar de uma Mãe – Um filho Especial”, de Luciete Barbosa. A obra narra toda a trajetória dela e de seu filho caçula, João Victor, que, próximo de completar 5 anos, acidentalmente quase se enforcou nos punhos de uma rede. A entrada é franca.
O livro, que é o primeiro de Luciete, sai pela editora Appris e dispõe de 263 páginas. O que aconteceu com João Victor mudou totalmente a vida da família: ele teve uma lesão cerebral causada pela falta de oxigênio no cérebro e, devido à gravidade das sequelas, passou a necessitar de diversos cuidados. “A situação e o contexto que ela envolveu, trouxe para nós grandes ensinamentos, mostrando que todos estamos sujeitos ao inesperado. Entendo que o sofrimento não possui um significado absoluto, mas a forma de lidar com ele define o que temos que aprender e como evoluir espiritualmente. E sempre acreditei que não estamos sozinhos no mundo, que em qualquer caminho escolhido há uma presença maior ao nosso redor. Além disso, Deus sempre manda alguém no momento certo e na hora certa, porque um abraço ou uma palavra valem muito”, destacou.
Em sua narrativa, Luciete explica em detalhes cada fase do processo que enfrentou, desde aquele fatídico dia de fevereiro de 2006 – um dia comum, em que João se preparava para ir à escola. Culpa, medo e depressão, o olhar indiscreto das pessoas acerca da condição do filho: tudo é abordado no livro. “Várias vezes notei olhares diferentes para com João, e dói, é uma dor avassaladora, que te deixa impotente, com vontade de ser mágica, fazer a pessoa sumir e ficar somente você e seu filho nesse universo seguro de afeto e aceitação, que criamos para eles”, explanou.
A publicação também revela como Luciete buscou transformar o sofrimento em algo positivo, começando pela própria escrita do livro, e suas experiências com o propósito de ajudar o filho. Ela fez, inclusive, uma graduação em Nutrição e vários outros cursos para aprimorar a rotina de João. ‘Mãe’ não é uma mera palavra jogada ao vento, como enfatizou. “Diante de tudo que passei e carreguei, me sinto feliz, porque fui privilegiada por ter escutado do meu filho um ‘eu te amo’, um chamar de ‘mãe’ e ainda não perdi a esperança de ouvi-lo me chamar de mãe mais uma vez”, afirmou. Além disso, por meio do livro, ela deseja inspirar aqueles que vivenciam uma situação semelhante, abrindo uma nova perspectiva e o pensamento de que é possível encarar essa jornada de um jeito mais leve e prazeroso.
Luciete pontuou que o sofrimento nos conecta ao aprendizado, à evolução, e exige uma maior proximidade com os outros, coisa que hoje é cada vez mais difícil, já que ficamos progressivamente isolados no mundo digital. “Precisamos encarar a dor, fugir dela é o que nos adoece emocionalmente e, na atualidade, a tendência é a medicalização, objetivando a anestesia emocional, mas não podemos nos esquivar disso para sempre, como se não existisse, pois sabemos que chega para todos nós”, finalizou.
Maria Luciete Barbosa do Espírito Santo é natural de Óbidos, no Pará, e mora em Campina. É graduada em Nutrição pela Universidade Maurício de Nassau, pós-graduada em Clínica pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (Faveni), e Comportamento Alimentar e Nutrição Funcional, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás. Seus estudos têm ênfase, ainda, em paralisia cerebral, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), sendo autora de artigos científicos em periódicos nacionais e internacionais.
“Nenhum gol”
Um dos pontos altos do livro refere-se aos depoimentos daqueles que fazem parte da vida de João Victor, que no dia 15 de março completa 23 anos. São familiares, amigos e profissionais de diversas áreas, relatando um pouco de seu dia a dia com ele.
Um deles é da tia Luciana Rosas. Ela conta que uma de suas recordações mais doces, da infância de “João Grandão” – como carinhosamente o chama – foi quando, certo dia, ele pediu que ela urgentemente falasse com Lucas, que é irmão dele. “João, com a bola embaixo do braço esquerdo, a mão na cintura, dedo apontando para a trave de futebol e o rosto fechado, muito chateado, disse: tia, você pode conversar com o Lucas? Você acredita que ele não deixa que eu faça nenhum gol? Pode me ajudar a resolver isso? Lucas, defendendo-se, respondeu: Mas, tia, eu sou o goleiro! O João não quer entender que eu preciso defender a bola! Só me deixa fazer um gol, não custa você ser legal comigo!, João exigiu”, declarou Luciana. Em seu depoimento, ela salientou que sempre se pega rezando por aqueles que não tiveram a mesma oportunidade que João, de crescer em um lar amoroso, cheio de gente alegre, de pessoas que choram, mas que enxugam as lágrimas e recomeçam por ele, para ele.
Noutro relato, a fisioterapeuta Maíra Tupinambá comenta que João Victor venceu um quase enforcamento acidental, venceu 28 dias na UTI, venceu sua dificuldade de deglutição, dificuldade motora e respiratória e venceu, a cada dia, a vida. “Nem consigo conter as lágrimas ao lembrar quão doce e cooperativo ele é”, afirma.
Prima de João, Maria Eduarda Rosas diz que os momentos da infância ao lado dele renderam uma série de memórias divertidas. “Naquela época, eu sempre me perguntava o porquê de olharem o tempo inteiro para ele, com um olhar de tristeza e pena. Eu escutava as pessoas falando sobre o jeito dele e não compreendia os comentários, porque eu amava o jeito dele. Só muito depois, já com uma idade maior, entendi a motivação delas. Deixo aqui o meu respeito e admiração pela luta constante dos pais que têm filhos especiais e peço que não escondam seus filhos, deixem as outras crianças conhecê-los, porque eu conheci e convivi com um menino especial que tornou a minha infância mágica e bonita”, ressaltou.
Texto: Oziella Inocêncio
Você precisa fazer login para comentar.