Universidade Estadual da Paraíba recebe doutorandos da Argentina para intercâmbio de pesquisa
Em dia de jogo de Brasil x Argentina, não poderia faltar uma provocação entre pessoas destes grupos. Mas, a conversa foi bastante amigável e o foco do encontro na terça-feira (21), mesma data da partida entre as duas seleções pelas Eliminatórias Sul Americanas para a Copa dos Estados Unidos, Canadá e México, foi a pesquisa que quatro argentinos estão desenvolvendo no período de intercâmbio em laboratórios da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Belén Pistonesi, Julián Gutierrez, Mariano Trillini e Yanina Aguilera estão cursando doutorado nas áreas de Química, Eletrônica, Ciências Ambientais e também Química, respectivamente, na Universidad Nacional del Sur, na cidade de Bahia Blanca, Argentina. Estão em Campina Grande desde 19 de outubro e passarão dois meses em estágio de pesquisa na UEPB, graças a um convênio entre a Instituição, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) e a universidade argentina. Este é um acordo bilateral e a UEPB também já enviou pesquisadores para intercâmbio na Argentina.
Todos estão no mesmo grupo de pesquisa em sua universidade de origem, são bolsistas e, na UEPB, receberam apoio com alimentação e moradia. No início do ano, Julián já tinha vindo ao estado também para um estágio de dois meses, em João Pessoa, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas é a primeira vez de todos em Campina Grande e a primeira vez de Mariano e Yarina no Brasil. A descrição principal ao serem perguntados da cidade e da Universidade é que é tudo “muy lindo”, mesmo com o calor que estão enfrentando no momento.
Como o tempo do intercâmbio é curto, eles já se organizaram previamente para o que iam desenvolver na UEPB. Yarina veio interessada especialmente na parte de quimiometria e saber mais sobre a área, já que é algo que ela não trabalha em sua instituição. “Minha ideia é montar um equipamento portátil, que também poderia ajudar os outros colegas em seus trabalhos e, assim realizar um trabalho em conjunto. E é algo que não poderíamos fazer sozinhos lá”, disse Yanina Aguilera. “Vim particularmente para caracterizar um material que estou trabalhando na Argentina e a ideia é utilizar instrumentos que não temos acesso lá”, disse Belén Pistonesi.
Em seu país, Mariano trabalha com parâmetros de qualidade de água de um rio e trouxe consigo amostras para fazer algumas análises comparativas aqui. “Na Argentina, também trabalho numa instituição similar à Embrapa, então, meu segundo trabalho aqui é tentar desenvolver um sistema automatizado para determinar a textura do solo, algo bastante importante para a agricultura e agropecuária”, disse Mariano Trillini. Ele é o estudante que mais está fazendo trabalho em campo, tendo contato também com o Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias (PPGCA), no Câmpus II, em Lagoa Seca.
Julián Gutierrez disse que está seguindo seu plano de trabalho da Argentina, tendo mais contato com o que é desenvolvido no Parque Tecnológico, que junta trabalhos de Química e Eletrônica. “Estou trabalhando na parte de programação e fazendo um curso de aprendizado automático, chamado machine learning, que desenha circuitos em 3D”, explicou.
Com relação à língua portuguesa, os doutorandos estão aprendendo na prática, no dia a dia e com ajuda de aplicativos. Com exceção de Julián, que teve uma experiência prévia no país, os outros chegaram sem saber nada de português. Mas, como já havia uma relação entre os laboratórios da UEPB e Universidad Nacional del Sur, eles já tinham familiarização com o idioma e com pesquisadores brasileiros.
Internacionalização
O professor Germano Veras, coordenador do Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) e do grupo de pesquisa e laboratório, Laboratório de Química Analítica e Quimiometria é o anfitrião deste grupo de doutorandos na UEPB. O convênio foi formalizado com a Universidad Nacional del Sur em 2016 e nele constam as diversas atividades que podem ser feitas em conjunto, como envio de alunos, de professores, compartilhamento de pesquisas e orientações.
O professor Germano afirmou que o ganho que se tem em trazer alunos e professores para a UEPB são fundamentais. “A pesquisa hoje, no mundo todo, é interdisciplinar. E nós precisamos garantir que o que estamos fazendo é o estado da arte da ciência que trabalhamos. Essas parcerias, acordos e intercâmbios permitem que nós alcancemos essa excelência no trabalho. E essa excelência é comprovada também pelos artigos que publicamos das pesquisas”, disse.
O pesquisador afirmou também que os programas de pós-graduação na UEPB estão em um caminho muito bom. “Nós temos a possibilidade de tornar nosso programa muito mais robusto e internacional aos olhos da Capes e de órgãos de fomento. E aos olhos de toda a comunidade científica, é algo muito importante”, relatou o professor Germano.
Ele citou as parcerias do seu grupo de pesquisas em trabalhos associados com professores das universidades federais do Piauí, da Rural de Pernambuco e do Rio Grande do Sul e com a Universidad Nacional del Litoral, em Santa Fé, na Argentina. “E buscamos outras parcerias que nos permitam publicar mais e melhor todos os anos. Apesar das dificuldades, temos conseguido alcançar essa excelência no trabalho”, afirmou Germano Veras.
Em tempo, o Brasil perdeu para a Argentina por 1 a 0 naquela noite da terça (21), no Maracanã, pela sexta rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. Se no campo de futebol há rivalidades, no campo acadêmico há sempre cooperação. E no campo científico, todos tendem a ganhar.
Texto e fotos: Juliana Rosas
Você precisa fazer login para comentar.