Universidade Estadual da Paraíba se destaca na preservação e acervo para pesquisas em Literatura de Cordel
Também conhecido como folhetim, um gênero da literatura brasileira que retrata o dia a dia da cultura nordestina em versos com métrica e rima, a Literatura de Cordel é caracterizada pela oralidade e por uma linguagem informal que ganha versão impressa em brochuras penduradas em cordas, daí o nome. Uma das principais manifestações da cultura popular brasileira, o cordel tem sido objeto de iniciativas desenvolvidas na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), que buscam a valorização e preservação deste patrimônio nordestino.
É o caso do projeto “A Literatura de Cordel no município de Catolé do Rocha e cidades circunvizinhas: ampliando a identificação dos autores e evidenciando a cultura popular no Sertão paraibano”, desenvolvido no Câmpus de Catolé do Rocha, sob a coordenação da professora Vaneide Lima. De acordo com a docente, embora seja um importante instrumento de comunicação e de preservação da cultura nordestina, este gênero literário tem sido pouco difundido em algumas cidades do interior da Paraíba, a exemplo do município de Catolé do Rocha. No ano de 2020 uma pesquisa de iniciação científica orientada pela professora, revelou a escassez de cordelistas na cidade, identificando que um dos fatores que levam a isso é a falta de incentivo e de espaço para publicar e divulgar os cordéis.
Também no âmbito da pesquisa, é desenvolvido o projeto “Literatura de Cordel e a preservação da memória de cidades paraibanas através das narrativas orais e cultura escrita”, coordenado pelo professor do curso de Jornalismo do Câmpus I, Orlando Ângelo. O estudo analisa o conteúdo de folhetos de cordel cujos temas reforçam a preservação da cultura e da memória de cidades paraibanas a partir das narrativas orais. Além disso, busca compreender a construção desses cordéis na perspectiva da preservação da memória e identidade paraibanas. O referido projeto pretende propor a criação de um museu virtual da Literatura de Cordel, destinado à preservação da memória de cidades paraibanas através das narrativas orais e cultura escrita.
Para a professora Vaneide Lima a literatura popular, enquanto manifestação artística, constitui uma produção nordestina de grande valor e expressividade. “A força de expressão que se evidencia através da sonoridade presente nas rimas, por exemplo, garante a popularidade do gênero e atrai os leitores, motivo pelo qual a inclusão de uma literatura de cordel que constitua verdadeira produção artística, a exemplo de clássicos como ‘Viagem a São Saruê’, deveria ser implantada nas salas de aula”, avalia.
O projeto orientado pela docente está na segunda fase de execução e utiliza instrumentos de pesquisa de campo, como a entrevista. O objetivo do projeto é dar visibilidade para esses artistas e apontar as dificuldades para se produzir e publicar cordel na região. O trabalho de campo terá como resultado um encontro dos cordelistas entrevistados e a publicação de cordéis de quem já escreveu, mas não teve e oportunidade de publicar.
O professor Orlando Ângelo avalia que “o cordel tem importante contribuição para a cultura, justamente por revelar histórias sobre os mais diversos segmentos sociais, sendo fonte de pesquisa, inclusive, sobre outras culturas. Isso é fruto dos cordéis de época ou ocasião, históricos ou educativos, de louvor, homenagem, propaganda política e comercial, banditismo, maliciosos, eróticos, cômicos e de gracejos, de bichos, religiosos, profecias, filosofia, conselhos, fenômenos ou casos, maravilhosos ou mágicos, de amor, ou de romance, amoroso, de bravura ou heroicos, de anti-herói, pelejas e desafios”, destaca.
Diante disso, a multiplicidade e diversidade desbravada na Literatura do Cordel é considerada fonte de aprendizagem, uma riqueza patrimonial e histórica, além de ser um importante instrumento de cultura popular nordestina que reverbera representação e valorização da cultura nordestina
Biblioteca Átila Almeida
Considerada uma base sólida para os cordelistas e pesquisadores da temática, a Universidade Estadual da Paraíba possui um acervo de cordéis que é referência nacional e internacional. Na instituição encontra-se a Biblioteca Átila Almeida, que conta com cerca de 18.341 obras. Parte desse acervo é formado por coleções particulares dos professores Átila Almeida e Gilmar de Carvalho, bem como outros renomados nomes da literatura popular, como os poetas Manoel Monteiro e Marcelo Soares. A coleção de cordéis que deu origem à biblioteca foi recebida por Átila como herança deixada pelo seu pai, Horácio de Almeida. Posteriormente essa coleção foi ampliada com a colaboração do poeta José Alves Sobrinho.
Hoje, o acervo da UEPB é o que possui a maior coleção de cordéis da América Latina, com obras raras datadas a partir de 1907, sendo dividida em títulos clássicos e contemporâneos, com autores da nova geração de cordelistas e veteranos, a exemplo de Leandro Gomes de Barros, primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, João Melquíades Ferreira da Silva e José Camelo de Melo Resende. A riqueza da coleção de folhetos da Biblioteca Átila de Almeida retrata tanto a cultura universal quanto as peculiaridades da cultura nordestina.
Para a bibliotecária responsável pela Biblioteca Átila Almeida, Marília Silveira, os cordéis são um importante veículo de popularização e comunicação de informações de diversas áreas e, ao possuir a maior coleção de cordéis da América Latina, a UEPB se encontra como referência, no âmbito nacional e internacional, em pesquisas no tema. Hoje a biblioteca atende a uma demanda constante de pesquisadores de diferentes áreas com pesquisas relacionadas à literatura de cordel.
A bibliotecária enfatiza, ainda, que basta uma rápida pesquisa na plataforma Google Acadêmico, para que seja verificada a existência de 177 trabalhos voltados para a literatura de cordel em áreas como Saúde, Física, Ciência da Informação, entre outras, que fazem referência direta à Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida.
A Biblioteca funciona de maneira presencial, no entanto, durante a pandemia está com o horário reduzido e com um limite de usuários por dia. O atendimento acontece nas quartas e sextas, no período das 8h às 12h, e em geral são atendidos dois usuários por dia. É necessário realizar agendamento com dois dias de antecedência. Para garantir o atendimento, deve-se acessar o site https://bibliotecaatilaalmeida.uepb.edu.br/ e seguir as instruções da sessão agendamento. A confirmação é recebida através do e-mail informado.
Texto: Débora Macedo (Estagiária)