8 de março: UEPB vivencia avanços nas políticas de gênero e mulheres da Instituição apresentam relatos

8 de março: UEPB vivencia avanços nas políticas de gênero e mulheres da Instituição apresentam relatos
7 de março de 2022

Vulnerabilidade, sexismo, racismo e transfobia são algumas das opressões e violências enfrentadas por mulheres no Brasil, que descortinam uma herança histórica patriarcal e misógina. Diante dessa realidade, para além das homenagens que romantizam as vivências das mulheres e naturalizam a exclusão e a desigualdade enfrentada por estas na sociedade, o 8 de março segue, desde 1909, quando foi estabelecido este marco nos Estados Unidos, como dia de luta por equidade e combate a todas as formas de violência contra mulheres. Na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) várias iniciativas têm sido empreendidas relacionadas a questões de gênero, raça, classe social, dentre outros elementos, permitindo uma visão interseccional sobre as temáticas que perpassam a condição das mulheres na Instituição.

Recentemente, foram aprovadas no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UEPB as Resoluções 021 e 022/2021, que regulamentam a política de ações afirmativas com a reserva de vagas nas graduações e pós-graduações da Instituição destinadas a pessoas negras, trans, indígenas, ciganas, pessoas com deficiência, quilombolas e egressas de escolas públicas. Tal iniciativa pode contribuir para a inclusão de mulheres em condições de vulnerabilidade no ensino superior e, consequentemente, possibilitar a inserção social por meio da educação.

Além disso, desde 2019 as servidoras da UEPB tiveram o prazo de licença maternidade estendido, e as lactantes passaram a ter direito a dois intervalos especiais durante o turno. Nesse mesmo ano, também foi aprovada a Resolução 0266/2019 no Consuni, a qual estabelece 50% dos cargos de gerência superior para as mulheres. Atualmente gerida por uma reitora e vice-reitora, a Instituição conta 51,16% dos cargos de gerência superior (pró-reitorias, coordenadores de coordenadorias, dentre outros) e 48,56% dos cargos de administração setorial, que são eletivos (Direção de Centro, Chefia de Departamento, Coordenação de cursos, dentre outros) ocupados por mulheres.

É o caso da pró-reitora adjunta de Administração, Verônica Pessoa da Silva, docente do Centro de Humanidades, em Guarabira, com 18 anos de atuação na UEPB, que enfatiza a importância dessas políticas para contribuir com a superação das desigualdades de gênero nos espaços de poder e decisão e consolidar democracias representativas.

“Essa política parte de um reconhecimento de que a diversidade contribui para a ruptura da ideia de que espaços são historicamente determinados como lugares de homens e mulheres. Mas, sei que essa realidade não é uma prerrogativa em todos os espaços de gestão, precisamos avançar nesse reconhecimento, sobretudo nas universidades. Historicamente, nem sempre o lugar ‘destinado’ à mulher era o que ela desejava ocupar. A luta das mulheres, através do movimento feminista e dos estudos e debates sobre a igualdade feminina no mundo do trabalho, na política, na economia, na cultura, entre outros, tem assegurado a ampliação das diretrizes de empoderamento feminino e da liderança das mulheres”, avalia a docente.

Para a estudante do 4º período do bacharelado em Arquivologia, Késsia Souza, que atua em um projeto de pesquisa sobre feminismo negro, a educação é o caminho para que as mulheres possam superar apagamentos históricos, silenciamentos, machismo, violências físicas, sexuais e psicológicas, misoginia, racismo, feminicídio, LGBTfobia e entre outros diversos tipos de intersecções de opressões, dentro dos sistemas estruturais capitalistas e patriarcais, que atingem com evidência mulheres pobres, negras, indígenas, LGBTQIA+, dentre outras populações vulneráveis.

“Acredito que a Educação e a busca pelo conhecimento sejam pilares que possibilitarão a construção de uma boa base para a vida em todos os aspectos. Com uma profissão e a busca pelos diversos tipos de conhecimentos, em especial o autoconhecimento, as mulheres adquirem ainda mais força para lutar para sua emancipação social, política e financeira. E, assim, possuir sua liberdade parcial dentro da sociedade, conhecendo ainda mais seus direitos”, avalia Késsia.

A docente do Câmpus IV, Elaine Rech, que há dez anos atua na Instituição, foi a primeira mulher a assumir a Chefia do Departamento de Agrárias e Exatas, em Catolé do Rocha, onde uma iniciativa coordenada por ela – “Pitayas no Sertão” – ganhou destaque na mídia estadual, e hoje é um projeto de extensão que objetiva a doação de mudas para pequenos agricultores tornando-se mais uma fonte de renda para estes. Segundo ela, a presença de mulheres nos espaços de poder é um passo importante que deve ser reconhecido como resultado de movimentos históricos de outras mulheres que lutaram por equidade e respeito.

“Cada vez mais temos conquistado nosso espaço na sociedade, nas estruturas sociais, e é possível perceber uma maior presença feminina no mercado de trabalho, a conquista da independência financeira e o pleno direto de exercer nossa cidadania e direitos políticos. Mas não foi fácil chegarmos até aqui! Para isso, muitas dificuldades e obstáculos tiveram que ser superados, muitas lutas travadas, tabus quebrados, desafios vencidos. Neste sentido, devemos ser gratas àquelas que nos precederam nas lutas e na causa feminista e temos obrigação de continuar na busca por mais conquistas, desta forma, abrir mais espaços para as mulheres que nos sucederão”, conclui Elaine.

A auxiliar de serviços gerais do Câmpus V, Beatriz Barbosa, que há 13 anos atua na Instituição e é uma figura querida pela comunidade acadêmica do Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas, ser mulher na atualidade é se desdobrar para dar conta de uma jornada tripla de trabalho no ambiente profissional, em casa e nos cuidados com os filhos. “Eu criei duas filhas sozinha, sem apoio do pai, mas, com a ajuda da minha família. Sempre trabalhei muito e graças a essa luta consegui realizar meu sonho de comprar minha casa. E todo esse tempo em que estive na UEPB fiz amizades e sempre procurei superar os problemas que surgiam com alegria”, reflete Dona Bia, como é conhecida pelos corredores do câmpus.

Ações de gestão institucional durante a pandemia
Após o início da pandemia de covid-19, algumas iniciativas de gestão de pessoas na UEPB evidenciaram a empatia com as servidoras da Instituição. Desde o início do cenário pandêmico foi concedido o direito ao trabalho remoto não só para gestantes e lactantes, mas, para mães e pais de crianças menores em idade escolar, através da Portaria/UEPB/GR/0015/2020, a qual durou até o retorno das atividades escolares de educação infantil e ensino fundamental. Além disso, foram prorrogadas as licenças de servidoras que gozavam de licença maternidade.

O Observatório de Feminicídio Briggida Lourenço também têm sido um instrumento da Instituição para a efetivação de políticas de prevenção à violência contra as mulheres. Por iniciativa e articulação do setor são realizados cursos, oficinas, e campanhas que buscam conscientizar a comunidade acadêmica sobre os direitos das mulheres e a importância de ações efetivas de combate às violências de gênero.

A assessora administrativa da Reitoria, Priscilla Tomaz, evidencia essa vocação da UEPB enquanto lugar de aprendizado e acolhida para a categoria técnica-administrativa. Para Priscilla o 8 de março deve ser uma data política, para celebrar conquistas sociais e busca de respeito e igualdade.

“Ser mulher, nos dias de hoje, é olhar com consciência e gratidão às gerações passadas, que abriram o caminho para uma sociedade mais justa e igualitária, ao mesmo tempo em que é, também, reconhecer a responsabilidade de continuar lutando pelo nosso espaço e por nossos direitos. E o 8 de março é um dia para lembrar que a luta é longa e ainda não terminou. Adoro chocolate e acho lindas as rosas, mas o que realmente quero e preciso é respeito, reconhecimento e igualdade, porque, apesar dos avanços, a mulher na sociedade atual ainda acorda diariamente criando estratégias para se esquivar das consequências da violência e discriminação. Além disso, precisa atentar-se para repelir os comportamentos e ideias machistas e lutar, a cada dia, contra os estereótipos que a sociedade nos coloca”, avalia Priscilla.

A secretária do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas do Câmpus VII, em Patos, Dinaihara Torres, que integra a categoria técnica administrativa desde 2010, avalia a importância das universidades como forma de possibilitar a inclusão e ascensão social das mulheres.

“A expansão das universidades está intrinsecamente ligada aos direitos adquiridos pelas mulheres, sempre consideradas pelos homens como ‘sexo frágil’ cujo lugar era dedicado ao cuidado doméstico e maternal. O tempo passou, muita coisa mudou e hoje somos maioria nas Universidades. Estou no campus há 12 anos e tive a oportunidade de acompanhar a ascensão social das nossas alunas, bem como o aumento da oferta de postos de trabalhos bem remunerados, seja gerenciando um banco, um shopping, seja abrindo uma empresa, criando uma marca. Tive a oportunidade também de participar de gestões femininas que fizeram muita diferença e me ensinaram muito mais do que a parte burocrática”, reflete Dinaihara.

Conquistas e dificuldades enfrentadas
Um conjunto de movimentos no final do século 19 e começo do século 20 nos Estados Unidos contra as péssimas condições de trabalho às quais as trabalhadoras eram submetidas é apontado por pesquisadores como a origem do 8 de março. Porém, apenas em 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou a data ao declarar que “a não-inclusão das mulheres é um obstáculo ao progresso social”.

No Brasil, apesar de terem alcançado algumas conquistas históricas, como: a liberação para votar (1932); a garantia constitucional de igualdade de direitos (1988); a eleição de uma mulher, Dilma Rousseff, para a presidência do Brasil (2010); o cenário de violência contra mulheres continua presente.

Em 2006 foi sancionada a Lei n. 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, um marco no que concerne à punição de casos de violência contra mulheres. Desde 2013, a Organização Mundial de Saúde apontou que a violência contra a mulher é uma epidemia global. Ao elaborar a Agenda 2030 rumo ao desenvolvimento sustentável a ONU incluiu dentre os objetivos a “igualdade de gênero”.

E assim, entre avanços e retrocessos, movimentos sociais, entidades de classes e instituições engajadas com a defesa das questões de gênero têm buscado conscientizar a sociedade sobre a importância de se discutir sobre as pautas de gênero, não apenas no dia 8 de março, mas, durante todo o ano.

Texto: Juliana Marques
Fotos: Arquivo Pessoal/Divulgação