“Cenas e Poemas”: aberta a exposição de fotografias e poesias que retratam o cotidiano dos índios Potiguara

Os povos indígenas possuem uma herança de valor inestimável que tem se perpetuado no tempo e na história. A riqueza cultural, os costumes, a religiosidade, o manejo com a terra, a boa relação com a natureza fazem parte deste povo guerreiro e desbravador. Na Paraíba, parte dessa cultura, herdada dos índios Potiguara, está instalada na Aldeia Galego, Alto do Tambá, na Baía da Traição, litoral Norte do Estado.
Parte desta história, com todo o seu valor cultural e riqueza de detalhes, pode ser vista na exposição fotográfica “Potiguara: Cenas e Poemas”, da jornalista e fotógrafa da Coordenadoria de Comunicação (CODECOM) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Paizinha Lemos, e da professora do Departamento de Educação, Normana Natália Passos.
A exposição faz parte da programação do MAPP e da 20ª edição da Semana dos Museus e pode ser vista pelo público durante todo este mês de maio. O trabalho, que nasceu do olhar sensível e peculiar de Paizinha em captar cenas de relevante valor histórico, e da pesquisa de doutorado da professora Normana Natália, traz à luz cerca de 30 fotos e 14 poemas que retratam o universo indígena Potiguara, a exemplo de sua lida cotidiana e vivências atuais, como as atividades de caça e pesca.
Antes da abertura oficial, a família de índios potiguara fez uma apresentação do Toré, uma dança do povo indígena. Pela primeira vez em Campina Grande, o pajé Antônio mostrou um pouco da cultura do seu povo, trazendo alguns elementos como a crença e a religiosidade. Poeta, o pajé recitou de forma improvisada algumas poesias e não esqueceu o gesto da UEPB em valorizar a tribo. Ele fez um agradecimento especial às autoras pela iniciativa.
Após as apresentações culturais, o público pode, enfim, visitar a exposição. A reitora Célia Regina classificou como importante a mostra, visto que conhecendo a história, as memórias e a cultura do povo indígena potiguara, é possível defender essa cultura tão rica. Ela lembrou que ao longo da história, os povos indígenas tiveram as suas terras invadidas, mas resistiram. “Os povos indígenas vivem o tempo todo tendo a ameaça de invasão de suas terras. Então, para nós da UEPB, é altamente relevante uma mostra como essa para reafirmarmos nossa posição de apoio ao povo indígena potiguara”, disse.
A vice-reitora, Ivonildes Fonseca, destacou que o registro da cultura potiguara na Paraíba tem dimensão significativa, no sentido da Universidade contribuir para o fortalecimento de uma luta histórica.
Visivelmente emocionada, Paizinha Lemos revelou que a exposição nasceu de sua proximidade e admiração com os Potiguara, e pela relação com a cidade de Baía da Traição. “Esta ideia surgiu em 1991 quando eu conheci a Baía da Traição, e fiquei encantada com eles. Os índios são nossos amigos, e aprofundei essa amizade depois que eu conheci o pajé Antônio, que é uma pessoa muito boa, um educador nato, e poeta”, disse.
No trabalho, Paizinha tirou mais de 400 fotos, mas escolheu cerca de 30 para expor, enaltecendo os valores e cultura indígena do povo potiguara. A maior parte das fotos foi tirada no Dia do Índio em 2019, “Isso para eles é fantástico. Ficamos felizes em poder proporcionar esse momento a este povo que sofre tanto. Os nossos indígenas realmente são os donos daquela terra, mas não tem o valor devido”, observou. Paizinha tem 31 anos de profissão, sendo seu ofício bastante conhecido e valorizado na cidade, principalmente no registro das ações e atividades da UEPB. Ela começou a fotografar no curso de Comunicação Social e desde então, não parou mais.
“Eu sempre escrevi poesias desde criança. Agora essa escrita poética e etnográfica ao mesmo tempo veio surgir com o meu doutorado, porque eu desenvolvo um trabalho sobre a história atual deste povo”, relatou.
Presente no evento, o pró-reitor de Cultura, professora José Cristovão Andrade, destacou que o grande legado que a Universidade está construindo será a oxigenação e fortalecimento da cultura popular, referenciado com a presença da cultura indígena Potiguara. O diretor do MAPP, professor José Pereira, lembrou que a exposição está enriquecendo a Semana Nacional de Museus, que este ano tem como temática “O poder dos museus”. A exposição itinerante já ocorreu na Baía da Traição, onde obteve uma boa receptividade, principalmente por parte das escolas locais, segundo explicou Paizinha, e deve em breve ser levada para a USP.
Confira a galeria de fotos da abertura da exposição.
Texto: Severino Lopes
Fotos: Givaldo Cavalcanti