Projeto sobre memória, sociedade e cidadania realiza mesa e exposição sobre os 60 anos do golpe militar de 1964

29 de abril de 2024

Com o objetivo de preservar a memória do mais longo período de supressão das liberdades democráticas no Brasil republicano, a ditadura, o projeto “Memória, sociedade e cidadania (MUDDE): reflexões para além dos muros acadêmicos”, vinculado ao Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas (CCBSA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) promoveu, nesta segunda (29), pela manhã, no auditório do Câmpus V, em parceria com o movimento estudantil Correnteza, a mesa intitulada “A impunidade do passado justifica o presente: ditadura nunca mais”.

A atividade, que integra o evento “60 anos: por memória, verdade e justiça”, contou com a participação da gerente executiva de documentação e arquivo da Casa José Américo e integrante do Comitê Paraibano Memória, Verdade e Justiça e do Memorial da Democracia da Paraíba, professora Lúcia Guerra; e do integrante do Comitê por Memória, Verdade e Justiça (PB) e apresentador do programa Abrindo Mentes, na Web Rádio Alta Potência, Zeca Mendonça. No turno da noite o debate reúne a filha e neta de Biu Pacatuba, primeiro presidente das Ligas Camponesas de Sapé, e, respectivamente, Lúcia Malheiros e Giovana Malheiros, e a socióloga e coordenadora do Memorial da Democracia da Paraíba, Fernanda Rocha.

Além das mesas de debate o evento conta com a exposição “Brasil nunca mais: 60 anos depois”, que está disponível no Hall da Central de Aulas do Câmpus V com recortes dos casos apresentados no livro “Brasil nunca mais”. De acordo com o coordenador do MUDDE, professor Henrique França, esse evento foi idealizado a partir de uma preocupação com a apatia vivenciada na sociedade diante de discursos a favor da volta da ditadura, repressão, que ensejaria um posicionamento da Universidade.

“As universidades sempre foram um campo de combate mais fértil a esse tipo de comportamento, então pensamos em promover a exposição do livro Brasil Nunca Mais, e separamos depoimentos que acreditamos ser importantes rememorar para esse momento. E o diálogo com o Movimento Correnteza possibilitou a realização das mesas de diálogo como forma de combater ditaduras, atitudes fascistas, totalitárias, e possibilitar o contato com a história para nos tornar mais sensíveis a possíveis ameaças no futuro à nossa democracia”, avalia.

A professora Lúcia Guerra lembra que as consequências e marcas desse golpe ainda estão presentes até hoje porque não houve uma justiça de transição que punisse os crimes de assassinatos, torturas, desaparecimentos. Segundo a pesquisadora, há diversos registros documentais que comprovam o papel histórico da Paraíba, sobretudo a partir da mobilização de camponeses. Tal conteúdo está disponível no Memorial da Democracia da Paraíba onde também se encontram depoimentos que foram gravados pela Comissão Estadual da Verdade.

“É importante saber o que foi o golpe e a ditadura para que não se repita. Isso deve ser lembrado, sobretudo, porque recentemente tivemos uma tentativa de golpe contra a nossa democracia e só a partir do conhecimento da população podemos conscientizar as pessoas a respeito do que é regime autoritário e o que foi feito em nosso país, para agir no fortalecimento da democracia. Na Paraíba, tivemos diversos assassinatos, desaparecimentos, principalmente de camponeses que reivindicavam melhores condições de trabalho. Então é preciso rememorar todo esse processo para assegurar que não retrocederemos a esse tipo de conduta”, explica Lúcia Guerra.

Ao apresentar o contexto histórico em que se situou o golpe de 1964, o pesquisador Zeca Mendonça buscou alertar os estudantes presentes no evento a respeito do retrocesso civilizatório relacionado ao período de ditadura militar. Ele enaltece que o conhecimento proporcionado às novas gerações permite que, a partir das vivências do passado, seja possível atuar no presente para assegurar melhores condições do futuro.

Sobre o golpe de 1964 na Paraíba

O início da década de 60 na Paraíba foi marcado por mobilizações dos trabalhadores urbanos e rurais. A intensificação da urbanização, com o avanço do capitalismo no campo, propiciou o surgimento de práticas trabalhistas. Nesse período, o tom das manifestações populares foi dado pelo movimento camponês, através das Ligas Camponesas.

Em 1964, com a articulação do golpe que, na Paraíba, contou com a participação conjunta dos setores civis e militares, alguns partidos políticos de orientação conservadora e jornalistas, ocorreu uma repressão extensiva a vários setores da sociedade, mas, que se fez mais forte sobre as Ligas Camponesas, consideradas como uma afronta aos grandes proprietários de terra e uma ameaça à subversão da ordem. Um dos fatos marcantes do período na Paraíba foi o desaparecimento de dois líderes das ligas camponesas de Sapé: Nêgo Fuba e Pedro Fazendeiro. Eles nunca foram encontrados.

Seguiram-se nessa época, casos de sequestro, tortura, assassinato e perseguição a estudantes, professores, sindicalistas, magistrados, políticos, profissionais liberais, camponeses. Essas situações são comprovadas pelos depoimentos reunidos pela Comissão Estadual da Verdade e pela documentação referente ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) reunida e disponibilizada no Memorial da Democracia da Paraíba.

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Texto: Juliana Marques (com informações do relatório final da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do Estado da Paraíba)
Fotos: Divulgação