Equipe apresenta experiência do Projeto Zika que tem ajudado a combater o mosquito Aedes aegypti

19 de maio de 2022

Uma experiência bem-sucedida, selecionada para concorrer a um prêmio nacional, submetida a literatura científica, comprovada e que tem ajudado a combater os efeitos do mosquito Aedes aegypti, inseto transmissor da zika, dengue e chikungunya. Trata-se da produção de um repelente natural a base de citronela, aplicado na população da cidade de Junco do Seridó e que tem ajudado a população local a enfrentar as arboviroses, principalmente neste tempo quando o país enfrenta mais um surto dessas doenças.

Fruto do Projeto Zika UEPB, desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a demonstração da produção do repelente foi feita na Central de Integração Acadêmica Paulo Freire, no Câmpus I, por uma equipe de Saúde e Educação do município de Junco do Seridó, que tem atestado a eficácia do produto na população. A apresentação, acompanhada por professores, pesquisadores e estudantes, chamou a atenção pela forma simples e prática como o repelente é produzido, podendo ser feito em casa, de forma artesanal, e usando plantas que podem ser cultivadas em uma horta caseira.

A apresentação foi feita pelo coordenador de Endemias e agente de Saúde, José Eberton Balduino de Brito, da Secretária de Educação do Município; Mariana Nóbrega, e a professora Adriana Santos, diretora da Escola José Mariano, onde a experiência começou a ser realizada. A ação do Projeto Zika está entre as 10 experiências selecionadas pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) para o prêmio nacional “Aqui tem SUS”. Os três profissionais atestaram a eficácia do produto, e garantiram que devido aos seus efeitos, tem sido muito procurado pela população.

A receita conforme explicou detalhadamente os profissionais, utiliza a citronela, cravo, óleo de amêndoa ou mineral, água destilada ou filtrada, álcool em gel, além de um liquidificador, peneira, funil de plástico e recipiente, usado no preparo. Em pouco mais de um ano de produção e distribuição do repelente, mais de duas mil unidades já foram entregues a população de Junco, na comunidade Bom Jesus e na Zona Rural do município.

José Eberton Balduino de Brito, responsável pela distribuição do repelente e pelo acompanhamento dos índices de infestação no município, enfatizou que depois do repelente, conseguiu zerar o índice do Levantamento Rápido de Índices (LIRA) para Aedes aegypti, depois de 16 anos. O índice do LIRA no município está em 1.3, o que aponta estabilidade. Ele destacou que o repelente natural nasceu como fruto do uso dos saberes e conhecimentos da Universidade e a aproximação com a comunidade. Ele explicou que o repelente foi feito em Junco, numa parceria das Secretarias de Saúde e Educação com a UEPB, a partir das plantas cultivadas no Laboratório Vivo montado pelo projeto, e entregue a todos os usuários do Auxílio Brasil no município.

“Esta é uma iniciativa muito louvável. Nós atribuímos a queda nos índices do Lira a ação do repelente. Queremos agradecer a UEPB por esse projeto e estamos incentivando a população a utilizar a receita para produzir o repelente em suas casas”, disse.

Parceira do projeto e uma das incentivadoras da distribuição do repelente, a secretária de Educação de Junco, Mariana Nóbrega, relatou que a experiência tem sido muito bem-sucedida no município. “O Projeto Zika no município de Junco do Seridó tem sido de muita importância porque a partir do Laboratório Vivo, nós temos desenvolvido o repelente. Com isso, temos conseguido diminuir o número de pessoas com zika e chikungunya”, disse a secretária.

Diretoria da Escola José Mariano, a professora Adriana Santos, enfatizou que toda a população do distrito de Bom Jesus, formada por cerca de 400 pessoas, faz uso do repelente A equipe tem se esforçado para produzir mais repelentes e atender a demanda. “Nós temos produzido em larga escala, porque os pedidos são muitos e a eficácia do projeto comprovada”, disse.

Coordenador do projeto, o professor Cidoval Morais de Sousa, não escondeu a alegria e emoção em ver na prática os efeitos da iniciativa. O professor aproveitou a ocasião para fazer um breve relato do Projeto Zika, e lembrou que a iniciativa nasceu no auge de um surto de dengue, no final de 2015 e meados de 2016, com o intuito de dar resposta para além do modelo químico usado no combate às arboviroses.

Para desenvolver o projeto, a equipe chegou a mapear todo o conhecimento que havia de plantas e as submeteu a literatura científica para atestar o potencial no uso do repelente. Ao todo, foram estudadas cerca de 20 plantas, sendo que nove foram escolhidas para a produção do repelente natural, sendo que a mais estudada delas, foi a citronela. O projeto, conforme destacou o professor, surgiu como um modelo diferente, que vai desde a fase de escutatória, passando pela instalação e funcionamento dos Laboratórios Vivos, até a plantação e cultivo das plantas e a produção e distribuição dos repelentes naturais.

“Este projeto parte mais da escuta dos saberes locais. O Laboratório Vivo é uma construção coletiva que pode se materializar com uma horta, e pode ser um conjunto de práticas. No caso de Junco, o laboratório se tornou um espaço onde todas as disciplinas se juntam para promover saúde”, observou Cidoval, acrescentando que a promoção da Saúde passa por alguns movimentos como a educação, territorialização de práticas de Saúde, intersetorialização das políticas de Saúde, a relação dialógica com a comunidade, bem como o uso adequado dos produtos químicos.

Representante da reitora Célia Regina Diniz no evento, o professor Luciano Albino, chefe de Gabinete da Reitoria, destacou a importância da iniciativa. Ele enfatizou que o projeto desenvolvido em Junco do Seridó reflete a missão da UEPB, de estar próxima da população e das demandas da sociedade. “A UEPB de fato é uma Universidade integrada com o Estado”, destacou.

Após a demonstração, os repelentes foram entregues aos presentes, podendo ser usados dois dias após a sua fabricação. Todas as plantas usadas na produção do repelente serão cultivadas pelo Jardim Botânico da UEPB. Atualmente o Projeto Zika tem unidades de experimentos implantadas nos municípios de Tenório, Olivedos e Junco do Seridó, que integram o Consórcio São Saruê.

Texto e fotos: Severino Lopes