LDSF se destaca na síntese de fármacos para doenças negligenciadas e na formação de novos pesquisadores
Criado em 2018 e instalado no primeiro andar da Central de Laboratórios Multiusuários (LabMulti), no Campus I, o Laboratório de Desenvolvimento e Síntese de Fármacos (LDSF) é voltado à pesquisa e inovação em química medicinal e síntese orgânica, com foco no desenvolvimento de novos fármacos e compostos bioativos.
O laboratório é coordenado pelos professores Ricardo Olímpio de Moura e Igor José dos Santos Nascimento, ambos do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF). A supervisão é responsabilidade de Sonaly Albino, pós-doutoranda do PPGCF, que assume a gestão na ausência dos professores.
Segundo o professor Ricardo, “Igor coordena a parte de bioinformática, usando dinâmica molecular e outros estudos computacionais, fundamentais em um laboratório que trabalha com planejamento e síntese de fármacos. Utilizamos ferramentas de bioinformática para desenhar moléculas com maior assertividade, o que gera uma economia significativa na síntese, pois direcionamos moléculas com indícios de atividade. Isso também aumenta a precisão biológica, tornando o processo mais eficiente”, explicou o coordenador do PPGCF.
O laboratório desenvolve pesquisas em planejamento molecular, focando em doenças como câncer, inflamação, malária e leishmaniose. “Também trabalhamos com tuberculose e Schistosoma mansoni, uma verminose comum em áreas com saneamento precário”, disse o professor Ricardo.
A esquistossomose, conhecida como “barriga d’água” ou “doença dos caramujos”, causa acúmulo de água no abdômen e afeta milhões de pessoas em regiões tropicais e subtropicais, especialmente em comunidades sem acesso a água potável e saneamento.
Além de fármacos para doenças negligenciadas e infecções endêmicas que afetam populações de baixa renda, como hanseníase, dengue, doença de Chagas e leishmaniose, o laboratório também iniciou o desenvolvimento de medicamentos para ansiedade e depressão.
“Atendemos não apenas as pesquisas aqui, mas também parcerias e colaborações. Temos cooperação com a UFPB, a UFPE, onde realizam teses de doutorado e publicam artigos”, explicou Moura.
Ele também destacou parcerias com a Universidade de Franca e as universidades Nova de Lisboa e de Lisboa, com pesquisas em cotutela que resultaram em publicações de capítulos de livros.
Além disso, há patentes concedidas em parceria com outros laboratórios da UEPB, como o do professor Bolívar. “Ele desenvolveu um sistema para incorporar a molécula à cicatrização de feridas, patenteado em 2025, com bons resultados em cicatrização, inflamação e asma. Esta linha de pesquisa já apresentou avanços significativos.” Os próximos passos incluem ensaios de segurança em animais e a viabilização do produto no mercado.
O LDSF e a formação de pesquisadores
O professor destacou a importância do laboratório na formação de pesquisadores em diversos níveis, desde a iniciação científica até o pós-doutorado, evidenciando seu papel no desenvolvimento acadêmico e científico.
“A maioria dos alunos tem formação em farmácia, mas não me limito a isso. Incluo estudantes de química e biologia, pois a química medicinal é uma área abrangente. Competências de matemáticos e estatísticos também são valiosas, dependendo da etapa do projeto, que pode ser mais desafiadora para alguns perfis”, explicou.
Essa formação resulta da parceria com outros pesquisadores e laboratórios da UEPB, como o Laboratório de Síntese e Vetorização de Moléculas (LSVM), coordenado pelo professor Elquio Eleamen Oliveira; o Laboratório de Ensaios Farmacológicos (LABENFARM), coordenado pela professora Vanda Lucia dos Santos; o Laboratório de Desenvolvimento e Controle de Processos Farmacêuticos (LDCPF), coordenado por Bolívar Damasceno; e o Laboratório de Desenvolvimento e Ensaio de Medicamentos (LABDEM), coordenado por João Oshiro, todos vinculados ao PPGCF.
O LDSF também realiza pesquisa na síntese de medicamentos para o câncer, sua linha de pesquisa mais antiga. “Minha pesquisa envolve o desenvolvimento de compostos para doenças negligenciadas, como leishmaniose, malária e câncer. Também trabalhamos na criação de antimicrobianos para tuberculose”, explicou Sonaly Albino.
“Desde que entrei no laboratório, participei das atividades desde a iniciação científica, realizando minha pesquisa de mestrado e doutorado aqui. Sempre houve um ambiente colaborativo, sem hierarquia, com liberdade para diálogo entre os pesquisadores. O clima é de parceria, com apoio mútuo nos experimentos e estudos”, contou.
Nas falas dos alunos, ficou claro que no LDSF se aprende química na prática, em contraste com a lógica do cálculo pela execução de cálculos. A experiência vai além da graduação. Embora a teoria e os cálculos sejam importantes, Sonaly destaca que os pesquisadores iniciantes estudam uma química voltada para fármacos e a área farmacêutica.
A importância da Iniciação Científica
Esse ponto de vista é compartilhado por Arthur Gabriel Corrêa de Farias, mestrando em Ciências Farmacêuticas, que ingressou no curso de Farmácia por sua paixão pela Química e Biologia. “Resolvi fazer Farmácia porque unia essas duas áreas que sempre gostei”, afirma. Chegou ao LSDF pela Química e pelo PIBITI. Eu me interessei pela proposta e não quis sair mais. Fazer parte do PIBITI foi crucial. Antes, só pensava na docência. Sempre quis ser professor, não me via na pesquisa. Mas ser bolsista despertou essa paixão pela pesquisa, além da docência”, relembra Arthur.
Para ele, o laboratório representa pesquisa, comprometimento e trabalho em equipe. “Conhecemos muitas pessoas e criamos uma segunda família. Sou muito unido ao pessoal do laboratório, o que também me aproxima da docência.”
A paixão pela Química e pela pesquisa também fisgou João Vitor Vieira da Silva, aluno de Iniciação Científica e bolsista PIBITI. “Escolhi Farmácia porque sempre gostei de Química e Saúde. A Farmácia une essas duas áreas. Na verdade, foi um amigo que falou do laboratório e disse que era minha cara, pois sempre gostei de pesquisa. Mandei um e-mail para o professor e estou aqui desde então.”
João relembra o primeiro contato com o laboratório e a paixão imediata: “Era exatamente o que eu via no YouTube. Assistia aos vídeos e pensava: quero fazer isso. Quando cheguei aqui, foi a realização de um sonho.” Ele atribui seu entusiasmo à contribuição do laboratório para o fortalecimento da produção científica e tecnológica da instituição. “Quero estar entre os que produzem e aprendem a fazer ciência.”
Ciência não é obra de um gênio solitário
Uma das principais impressões deixadas pelas falas dos estudantes do LSDF foi a ideia de que a ciência se aprende fazendo ciência. Ela não é obra de um gênio solitário, mas uma construção coletiva, com a Iniciação Científica desempenhando papel fundamental.
Esse pensamento foi compartilhado por Arthur Gabriel, João Vitor Vieira, Henry Queiroga (6º período), Maria Lohanne Oliveira (2º período, não bolsista), Andreza Maria (8º período), Maysa de Lima (6º período) e Mirelly Barbosa, doutoranda do PPG em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos da UFPB.
Henry Queiroga, mesmo sendo voluntário (PIVIC), está sempre no laboratório. “Aqui estou em contato com o mundo científico, aprendendo sobre minha área e o processo de publicação de artigos. É essencial o aluno se interessar pela pesquisa”, afirma.
Ele explica que os artigos são produzidos em colaboração, com os professores incentivando a participação dos estudantes nas publicações. Além de orientar, os professores acompanham os projetos e oferecem apoio em todas as etapas, tornando o laboratório um espaço de aprendizado, troca de conhecimento e suporte constante.
Maria Lohanne Araújo de Oliveira, natural do Rio Grande do Norte, iniciou o curso de Farmácia em uma faculdade privada e transferiu-se para a UEPB. Ao conhecer o laboratório, se interessou pela pesquisa.
“Quando cheguei aqui, conheci o complexo onde fica o laboratório do professor João Oshiro [Três Marias]. Era um mundo novo, muito além do que imaginava. Desde então, passei a pesquisar mais sobre os projetos da UEPB. Não sabia o que estava sendo feito. Ao comparar a faculdade privada com a pública, percebi a diferença na qualidade e tive certeza de estar no lugar certo”, rememora.
Andreza Maria de Lima, estudante do oitavo período, também uniu Química e Saúde. Ela conheceu o laboratório após cursar Química Farmacêutica, com o professor Ricardo. “Quando cheguei aqui, pensei que descobriria a cura para uma doença. Depois percebi que não é assim. Fazer ciência é aprender a lidar com tentativas e erros, e, muitas vezes, as coisas não dão certo. Na maioria das vezes, aliás, dá muito errado [risos]. Mas, quando conseguimos um bom resultado, a sensação é incrível”, comemorou.
Como explicou Maysa de Lima, do sexto período, Farmácia não foi seu primeiro curso. Ela fez dois períodos de Direito, mas sem identificação com a área. Sempre gostou de Química e até pensou em fazer Biomedicina. “Antes, não tinha tanto interesse em pesquisa nem em laboratório, mas resolvi conhecer um para ver se me identificava. Como o LDSF é muito focado em Química, resolvi vir e gostei muito”, destacou, acrescentando que desenvolve pesquisa na área de câncer.
Ela contou que, inicialmente, não sabia se queria ir para o laboratório, pois temia a parte teórica e se sentir “presa” nesse ambiente. Também ouvira histórias sobre outros espaços de pesquisa, marcados por disputas e desentendimentos. Porém, ao chegar ao LDSF, percebeu que se tratava de um ambiente colaborativo e acolhedor, onde todos trabalham juntos e se ajudam.
Mirelly Barbosa Santos, bolsista de Iniciação Científica egressa do PPGCF e, atualmente, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos da UFPB, também destaca a importância do laboratório em sua formação, “foi aqui que me tornei cientista. Eu nem imaginava que iria aonde fui, e muito disso devo ao laboratório e ao que aprendi aqui com meus colegas e orientador”.
Zélio Sales
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