Tecnologia sustentável desenvolvida por pesquisador da UEPB transforma a vida de famílias no semiárido e é destaque na mídia nacional

7 de novembro de 2025

Francisco José Loureiro Marinho, docente do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

O dessalinizador solar desenvolvido pelo professor Francisco José Loureiro Marinho, do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), campus II, em Lagoa Seca, vem transformando a vida de mais de 100 famílias do semiárido brasileiro ao converter água salobra em potável. O projeto ganhou destaque nacional ao ser apresentado em reportagem do Bom Dia Brasil de 6 de novembro.

As pesquisas iniciadas em 2010 e resultaram na construção de unidades de dessalinização em diversos municípios da Paraíba, de Pernambuco e do Ceará. Os investimentos vieram de diferentes projetos e fontes de financiamento, entre eles o Ministério do Meio Ambiente, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a UEPB e o Banco Itaú. As unidades estão distribuídas em Remígio (10), São Vicente do Seridó (10), Cubatí (4), Pedra Lavrada (4), Caraúbas (70), Monteiro (10), Camalaú (30), Santa Luzia (24), Soledade (10), Cuité (20), Campina Grande (5), Caturité (5) e Sanharó, em Pernambuco (5) e Icapuí, no Ceará (5).

“Na verdade, esse projeto é uma adaptação do projeto do irmão Urbano, um frade redentorista. A princípio, ele tinha como objetivo apenas dessalinizar a água para canteiros econômicos, destinados a hortaliças; não era voltado para a dessalinização de água para consumo humano. Nós o utilizamos para dessalinizar água potável. Eu dizia ao irmão Urbano que o projeto dele era melhor do que imaginava, pois poderia retirar o sal de águas mais salgadas que a do mar”, explicou o professor Marinho.

Construído com vidro, cimento e lonas, o equipamento funciona como uma estufa, abastecida com água salobra proveniente de poços. Com o calor do sol, a temperatura da água pode atingir até 70 °C. O vapor gerado sobe, condensa no vidro, escoa por canaletas e se transforma em água própria para consumo humano.

O sal, que não evapora, fica depositado na lona. A manutenção do sistema é simples: as famílias precisam apenas limpar a lona para que o equipamento volte a funcionar normalmente.

De acordo com o professor Marinho, responsável pela pesquisa, as famílias agricultoras utilizam o sal como complemento na alimentação dos animais. A Embrapa Petrolina (PE) também desenvolve pesquisas sobre essa prática.

Em algumas regiões do semiárido, a água dos poços apresenta até sete gramas de sal por litro, valor muito acima do limite de meio grama por litro considerado potável. Segundo o professor Marinho, o dessalinizador solar, tecnologia simples, de fácil instalação e baixo custo, pode produzir até 16 litros de água potável por dia, oferecendo uma solução viável e sustentável para comunidades afetadas pela escassez hídrica.

O docente destaca que, por ser sustentável, não depender de tecnologias avançadas nem de insumos caros e de fácil montagem, “nós o trouxemos para a universidade porque acreditávamos que esse projeto era aplicável à zona rural e poderia transformar a vida das pessoas que necessitavam de água potável”.

Os primeiros dessalinizadores fora do espaço acadêmico

O professor explica que começou a construir os primeiros dessalinizadores em 2012. A primeira experiência em escala ocorreu em um assentamento rural no município de Remígio, com recursos do CNPq, onde foram construídas dez unidades no Assentamento Corredor.

“Foi um processo de adaptação de materiais e técnicas. Fizemos piso de alumínio, de cimento, e o sal corroía tudo. Um agricultor de Remígio teve a ideia de usar lona, pois disse que no mercado o sal é vendido em saco de plástico. E deu muito certo”.

Em 2018, o docente incentivou que seus alunos criassem uma organização não governamental (ONG) para que o projeto pudesse ser desenvolvido em outras regiões do Nordeste. Foi assim que surgiu a Associação de Profissionais em Agroecologia (APA).

Wanderley Feitosa Viana, presidente da Associação de Profissionais em Agroecologia (APA) e discente do curso de Agronomia, campus II (Lagoa Seca).

Segundo Wanderley Feitosa Viana, presidente da ONG, egressso do curso de Agroecologia e do mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental (MCTA), ambos da UEPB, “há diversas maneiras de construção: por alvenaria com tijolos ou com placas pré-moldadas. A diferença está apenas no tempo de execução. As partes mais difíceis de construir são a calha, a bandeja e a entrada das bandejas, mas, tirando isso, qualquer pessoa sem treinamento consegue construir”.

Viana, que retornou à UEPB para cursar Agronomia e retomar as pesquisas com o professor Marinho, explicou que o custo de construção dos dessalinizadores varia conforme o município. O primeiro modelo, desenvolvido em Campina Grande, teve custo aproximado de R$ 3 mil. “Já na cidade de Icapuí, no Ceará, a unidade ficou em torno de R$ 4,5 mil, porque a associação de moradores da comunidade pediu que todos os materiais fossem adquiridos localmente, para que pudessem acompanhar e compreender todo o processo, desde a compra até a construção”.

Conforme Wanderley Viana, o que mais o impressiona nesse projeto é o impacto social que ele causa. “Durante o desenvolvimento do projeto com o dessalinizador solar, tive a oportunidade de vivenciar, na prática, como a tecnologia social pode ser usada de forma simples e sustentável para resolver um problema real: a falta de acesso à água potável em regiões semiáridas. A experiência foi enriquecedora, tanto no aspecto técnico quanto no humano”.

Ele demonstra grande entusiasmo com a experiência, especialmente porque sua família construiu um equipamento no município de Queimadas, em 2022. “O dessalinizador solar é uma alternativa de baixo custo, sustentável e acessível, capaz de melhorar significativamente a qualidade de vida das famílias que dependem de fontes salobras ou de difícil acesso. Contribui não apenas para o abastecimento doméstico, mas também para a segurança hídrica e alimentar, permitindo o uso da água tratada em pequenas hortas e criações”, concluiu.

Zélio Sales

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