Equipe do NUPEA e PROEXT-PG/UEPB realiza capacitação sobre boas práticas de manipulação de alimentos para produtoras rurais de Queimadas  

16 de julho de 2025

Uma equipe formada por docentes e estudantes vinculados ao Núcleo de Pesquisa e Extensão em Alimentos (NUPEA) e ao Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) realizará uma capacitação voltada para mulheres produtoras rurais do município de Queimadas, na região metropolitana de Campina Grande.

A iniciativa tem como objetivo promover a formação técnica e o empoderamento de mulheres no setor da produção de alimentos, por meio da disseminação de conhecimentos sobre boas práticas de manipulação de alimentos.

As oficinas acontecerão em três módulos, nos dias 17, 24 e 31 de julho, e beneficiarão 15 mulheres do Coletivo Flores do Amanhecer. A capacitação será realizada no Sindicato Rural de Queimadas, localizado no centro da cidade, e contarão com momentos teóricos e práticos, favorecendo a troca de saberes e a aplicação direta do conhecimento.

A capacitação será ministrada por docentes do Mestrado em Ciências Farmacêuticas da UEPB da UEPB e contará com o apoio de discentes que atuam em atividades de formação extensionista, com foco em segurança alimentar, higiene, manipulação e conservação dos alimentos. As participantes receberão, como recurso pedagógico, uma cartilha exclusiva elaborada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O material, impresso com linguagem acessível e conteúdo visual, foi viabilizado com recursos do PROEXT-PG, destinados especialmente a esta formação.

Esta ação representa um dos primeiros desdobramentos concretos do planejamento anual do PROEXT-PG em 2025 e reforça o compromisso da Universidade com a promoção da inclusão produtiva e da valorização do conhecimento técnico em contextos comunitários.

O papel das discentes na capacitação

Entre as participantes das oficinas está a estudante Maria Isabel Sousa da Costa, do quinto período do curso de Farmácia da UEPB. Ela conta que seu interesse pela área surgiu durante a disciplina de Bromatologia, um campo multidisciplinar que estuda a composição, deterioração, processamento, conservação, elaboração, qualidade e comercialização dos alimentos destinados ao consumo humano.

Ela, que é bolsista de extensão, conta como chegou ao projeto. “Eu gostei muito da cadeira e achei fácil de me envolver com o processo. Então, eu ouvi que a professora Flávia [Flávia Carolina Alonso Buriti] estava precisando de um aluno voluntário e eu falei com ela e vim participar do projeto [PROEXT-PG].

A discente acredita que essas trocas são muito importantes. “Esse papel de passar para as pessoas o que aprendemos na universidade é muito importante. Além disso, pelo fato de a universidade ser tão ampla, é bom quando a gente sai do meio acadêmico apenas e pode participar de uma atividade prática e contribuir com a vida das pessoas”, destacou.

Outra estudante que está entusiasmada em participar do projeto é Danielly Barbosa dos Santos, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ) da UEPB. Durante a graduação e a Iniciação Científica, ela integrou a equipe de pesquisa da professora Pablícia Oliveira Galdino, responsável pelo estudo que resultou na patente da passa de abacate.

Graduada em Química, Danielly reconhece que, embora seu mestrado não esteja diretamente ligado à análise química de alimentos, tem muito a contribuir com as agricultoras de Queimadas. Natural de Pernambuco, ela se mudou para Campina Grande para estudar e afirma que sua história de vida se assemelha à das mulheres do Coletivo Flores do Amanhecer, o que torna sua participação no projeto ainda mais significativa. “É uma oportunidade de trazer o conhecimento para outras pessoas, porque ficar com o conhecimento só aqui [na universidade] não é tão interessante. Então, trazer o conhecimento e explicar para elas de uma forma simples e clara, que compreendam e que tragam melhorias para o que elas estão fazendo, é gratificante também”, comemorou.

Além disso, Danielly, que atuou no setor de aguardente antes de retornar ao meio acadêmico, acredita que a universidade tem a obrigação de levar o conhecimento prático à população, pois esse é um dos seus papéis sociais fundamentais, “um meio de divulgar o conhecimento. E quando falo em divulgação não me refiro apenas a profissionais da área, mas fazer essa conexão dos profissionais com a comunidade em si”, disse mostrando bastante interessada no projeto.

A participação docente

A aproximação entre o conhecimento acadêmico e os saberes populares é um dos pilares das ações de extensão universitária. Nesse sentido, a professora Eliane Rolim Florentino, docente colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas e integrante do NUPEA, acredita que formações como as que serão oferecidas às produtoras rurais de Queimadas têm um papel muito relevante.

Para ela, “a importância de ações assim é que podemos proporcionar a essas mulheres um produto de qualidade, principalmente microbiológica. Muitas vezes, elas sabem fazer o produto, mas não têm a técnica correta. A universidade vai justamente levar essa técnica para elas. Elas terão o conhecimento para elaborar produtos cada vez mais seguros e saudáveis, o que fará aumentar a qualidade dos produtos delas,” explicou.

A docente, que é engenheira química, também destaca que é papel da universidade fazer a transferência de conhecimento para a comunidade, especialmente para um coletivo de produtoras rurais que não tiveram acesso ao conhecimento produzido na universidade pública.

Já a professora Flávia Carolina Alonso Buriti, também docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas e uma das coordenadoras do NUPEA, vai além ao destacar a importância das ações de extensão. “Nós conhecemos as mulheres do Coletivo Flores do Amanhecer a partir de uma aluna nossa. Sua mãe é extensionista da Empaer [ Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária, antiga Emater] e pediu nossa ajuda para contribuir com elas”, relembrou.

A pesquisadora, que é nutricionista, destaca que seu papel enquanto universidade é contribuir para o melhoramento da produção delas a partir da intervenção das professoras e alunas da UEPB. “Elas já são criativas, além dos produtos do sítio e do roçado elas já fazem bolos, doces, salgados, mas não conhecem as técnicas e os processos adequados de produção de alimentos”, ressaltou.

Como a professora enfatiza, será um produto com “preparo adequado, com uma maior higiene, com maior controle sanitário, consequentemente é um produto mais seguro para o consumidor e com qualidade melhor. Então, o produto delas, sendo de melhor qualidade, representa uma agregação de valor que elas começam a dar ao próprio alimento que elaboram. Isso vai gerar um diferencial muito grande no comparativo dos produtos delas com os de outros produtores que não têm esse mesmo cuidado.”

A coordenadora no NUPEA acrescenta outro diferencial neste tipo de intervenção:  “uma maior divulgação, uma maior propaganda. De modo que elas vão ser vistas pela sociedade de modo geral como um produto diferenciado, um produto de melhor qualidade. E isso vai trazer um melhor retorno financeiro para as famílias delas. E trazendo esse melhor retorno financeiro para as famílias delas, consequentemente elas vão ter condições de investir mais na produção delas e desenvolver cada vez mais os produtos que elas elaboram, participar de outros cursos além desses que o NUPEA fornecerá a partir dessa formação”.

Segundo a professora Flávia, com esta primeira oficina espera-se não apenas gerar um impacto social positivo na vida das mulheres do grupo Flores do Amanhecer, mas também iniciar um “ciclo virtuoso que permita a elas, progressivamente, melhorar seu retorno financeiro, alcançar maior desenvolvimento e contribuir para o crescimento da comunidade em que vivem”, destacou.

Produtoras rurais envolvidas

Esta formação tem animados as produtoras rurais que serão beneficiadas pela capacitação, como ficou evidente na reunião realizada no dia 7 deste mês para debater o cronograma das oficinas. Severina Cassiano de Andrade Silva, do Sítio Sulapa, destacou a importância do projeto para sua vida e comunidade. Como ela relatou, eu passei quase 18 anos no Rio de Janeiro. Meu esposo e eu voltamos porque sempre sonhamos em retornar para nossa terra. Há 18 anos, não tínhamos as facilidades que temos hoje; muitas coisas que existem agora, como apoio do sindicato rural, sequer existiam para a gente.”

Em sua propriedade de seis hectares, ela e sua família cultivam feijão, jerimum, macaxeira, criam cabras leiteiras e produzem doces e bolos. “Estar ligada ao sindicato nos dá mais segurança, mais informação e ajuda com a documentação. Esse projeto veio para agregar [UEPB], porque produzimos alimentos, mas se não tivermos certificação ou reconhecimento de que nossos produtos são bons e saudáveis, como vamos comercializá-los? A capacitação da universidade será mais um passo para vender nossos produtos ao consumidor.”

Severina ainda ressaltou a satisfação com a iniciativa: “Estou muito feliz com a vinda da universidade para cá. Sinto-me presenteada, porque o que eu aprender, além de melhorar minha forma de produzir, poderei passar para minha família e até para os vizinhos”, comemorou.

Outra produtora otimista é Ana Paula da Silva, de Torrões. Ela produz ovos, doces, bolos e salgados, e afirmou que veio ao Sindicato por meio do coletivo Flores do Amanhecer. “Aqui a gente tem aprendido muito, especialmente trocando informações. Quando eu entrei no Grupo, muita coisa eu não sabia, e a gente tem aprendido muito; aqui eu aprendo e levo para meus filhos [três].

Ela contou que tem boas expectativas em relação ao curso de boas práticas, pois será uma forma de ter seus produtos reconhecidos como produzidos corretamente, com atenção à segurança alimentar.

Ao unir conhecimento técnico, valorização da produção local e fortalecimento comunitário, a capacitação promovida pela UEPB representa mais do que uma formação pontual: trata-se do início de um processo transformador. A expectativa é que, a partir dessa iniciativa, as mulheres do grupo Flor do Amanhecer avancem na profissionalização de seus produtos, ampliem suas oportunidades de geração de renda e se tornem multiplicadoras de saberes em suas comunidades.

Zélio Sales

Siga nosso perfil no Instagram e fique por dentro das novidades da PRPGP.